sábado, 8 de dezembro de 2012




Há muito tempo, existiam apenas os negros de fumo  e as tintas ocres ou pigmentos de argila.  Por volta do ano de 1500, um homem apresentou-se num palácio com um martelo de esculpir e um pincel e disse: “quero realizar obras de arte para o mundo inteiro com este instrumento”. Foi colocado com delicadeza for a do palácio e motivo de troça. O homem chamava-se Miguel Ângelo. 
Um artista pode criar arte de qualquer forma desde que tenha o material nas mãos.
Da Vinci via toda a espécie de coisas nas manchas que encontrava nos muros. O poeta Shakespeare via o mesmo na forma das nuvens. A natureza das pessoas e dos objectos dota-as da capacidade de ver as coisas de modo diferente e cada uma vê apenas o que já conhece. Nunca poderá vislumbrar uma imagem de algo que ignora.  É possível construir uma imagem através da sugestão de outra imagem ou de um poema, de modo que a imagem não se revele bruscamente mas de modo gradual acompanhando a imaginação do artista, para que seja reconstruída uma nova imagem como um corpo do qual se conhecem alguns elementos. É precisamente assim que os especialistas que desenham os achados dos arqueólogos procuram reconstruir a totalidade de uma imagem a partir de um pequeno achado, com base no que conhecem dos seus relevos e da sua matéria. E então é necessário conservar intacta a parte autêntica no seu estado natural sendo a parte reconstruída moldável em diferentes materiais consoante os elementos que vão chegando para a sua caracterização. O resultado final é incerto, não se sabe a que mundo pertence, se ao da estética e da fantasia, se ao real. O essencial é que se construa algo que não existia - sem pretensões de  competir com Miguel Ângelo,  Leonardo ou Rafael – algo que ninguém viu e que o próprio artista deitaria para o cesto do papeis encolhendo os ombros na humildade. É assim que todas as épocas vêem nascer as suas obras de arte. E todo o homem comum que souber conciliar o seu ambiente quotidiano, os objectos e os acontecimentos, com a arte será capaz de alcançar um equilíbrio vital na sua existência.


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