Há muito
tempo, existiam apenas os negros de fumo
e as tintas ocres ou pigmentos de argila. Por volta do ano de 1500, um homem
apresentou-se num palácio com um martelo de esculpir e um pincel e disse: “quero
realizar obras de arte para o mundo inteiro com este instrumento”. Foi colocado
com delicadeza for a do palácio e motivo de troça. O homem chamava-se Miguel
Ângelo.
Um artista pode criar arte de qualquer forma desde que tenha o material
nas mãos.
Da Vinci via
toda a espécie de coisas nas manchas que encontrava nos muros. O poeta
Shakespeare via o mesmo na forma das nuvens. A natureza das pessoas e dos
objectos dota-as da capacidade de ver as coisas de modo diferente e cada uma vê
apenas o que já conhece. Nunca poderá vislumbrar uma imagem de algo que
ignora. É possível construir uma imagem através da sugestão de outra
imagem ou de um poema, de modo que a imagem não se revele bruscamente mas de
modo gradual acompanhando a imaginação do artista, para que seja reconstruída
uma nova imagem como um corpo do qual se conhecem alguns elementos. É
precisamente assim que os especialistas que desenham os achados dos arqueólogos
procuram reconstruir a totalidade de uma imagem a partir de um pequeno achado,
com base no que conhecem dos seus relevos e da sua matéria. E então é
necessário conservar intacta a parte autêntica no seu estado natural sendo a
parte reconstruída moldável em diferentes materiais consoante os elementos que
vão chegando para a sua caracterização. O resultado final é incerto, não se
sabe a que mundo pertence, se ao da estética e da fantasia, se ao real. O
essencial é que se construa algo que não existia - sem pretensões de
competir com Miguel Ângelo, Leonardo ou Rafael – algo que ninguém
viu e que o próprio artista deitaria para o cesto do papeis encolhendo os
ombros na humildade. É assim que todas as épocas vêem nascer as suas obras de
arte. E todo o homem comum que souber conciliar o seu ambiente quotidiano, os
objectos e os acontecimentos, com a arte será capaz de alcançar um equilíbrio
vital na sua existência.